Sunday, July 10, 2011

Jazz and Bossa Artist of the Week (july 10 - 16) - Aline de Lima

Jazz and Bossa Artist of the Week (july 10 - 16) - Aline de Lima



http://www.alinedelima-music.com/
ALINE DE LIMA

Marítima é o terceiro álbum de Aline de Lima. Arrebol (2006) e Açaí (2008) foram produzidos respectivamente por Vinícius Cantuária (radicado nos Estados Unidos) e pelo japonês Jun Miyake (residente em Paris). Estas colaborações enriquecedoras ensinaram à cantora-compositora os fundamentos da produção musical. Em Marítima, Aline de Lima decidiu navegar sozinha. Porque ela tem uma forma benéfica e positiva de teimosia. Por trás de uma graciosidade delicada, existe um temperamento que não se rende, nem à métodos, nem à formatação.

As onze faixas de Marítima nasceram da obstinação de criar um "som". Aline de Lima juntou o evidente legado da música popular brasileira às excentricidades musicais extraídas do folclore multicor do Maranhão, território indígena, africano e europeu. Um todo combinado às influências transnacionais do modernismo digital.

Aline de Lima tem os pés fincados na cidade onde cresceu, em São Luís do Maranhão. Mas sua cabeça sempre esteve em outros lugares: na Suécia, onde ela foi morar no final da adolescência, e depois Paris, onde ela vive há dez anos.

Marítima, composição da cantora que deu título ao CD, toda produzida com violões, viola caipira, marimba, percussões de bumba-meu-boi e tambor de Mina, navega em direção ao Atlântico equatorial, à 2,3 graus de latitude sul. As águas do rio Amazonas acariciam soberbamente as margens do Estado do Maranhão. Ali pode-se praticar a cabotagem, à partir de São Luís, Alcântara, Cururupu, Belém, Macapá, com passagem direta sob a linha do Equador, exatamente sob o sol. Porém, Marítima vê além da linha do horizonte, uma visão que percorre um azul infinito e de repente repousa sobre os picos vulcânicos do Cabo Verde, por exemplo.

Um Mar de Mar, a faixa que encerra o álbum foi composta pelo cabo-verdiano Mário Lúcio, grande navegador da esfera musical lusitana, africana, caribenha e atual Ministro da Cultura do arquipélago de Sahel. O que canta Aline de Lima com delicadeza é um entrelaçamento de trocadilhos da raiz "mar" (maria juana, marimba, maracujá, Maracatu, Marrakech, maripousa, Maranhão...). Com Mário Lúcio, cantor, escritor, pintor, ex-advogado formado em Cuba, Aline compôs Lua de Janeiro.
Do Caribe, a jovem artista toma emprestado a leveza de um reggae-blues que ela chama de Upaon Açu. "Upaon-Açu" é o nome antigo de São Luís do Maranhão dado pelos índios Tupinambás, e quer dizer “Ilha Grande”, referindo-se à ilha em que a cidade foi construída em 1612.
Em 2010, Aline de Lima passou alguns meses no Brasil, esteve gravando no Rio de Janeiro e em São Luís. Nesta viagem, ela conheceu músicos e cantores, alguns como Flávia Bittencourt, com quem ela descobriu afinidades e compôs Flor de Brasília.
Mas onde há fumaça, há fogo: ao viver em Paris, Aline de Lima volta no tempo através da História. São Luís foi fundada por um francês, Daniel de la Touche, senhor da Rivardière, que se aliou aos índios para resistir aos portugueses. Marítima é um álbum que constrói pontes. Upaon-Açu, escrito em Português, também oferece uma estrofe em língua francesa. No álbum, Paris é homenageada em Português, ao ritmo de um samba o qual começa com bordões que lembram o Fado: Paris-Velho Novo Mundo é um retrato íntimo da cidade onde também rola um futebol. O esporte preferido do ídolo Chico Buarque, um aficionado da capital francesa (“Em Charletty, marca um gol Chico Buarque...”) e onde um calor comparado ao do sertão nordestino predomina durante alguns dias de verão de uma cidade "deslumbrante” - incrível e maravilhosa.
O acordeon chegou ao Brasil pelos portugueses, e continua animando o tradicional São João e as demais festas nordestinas. É rústico e florece como um mandacaru no xote Fina Flor, composto por Aline de Lima, que o interpreta com uma belíssima melancolia fadista. É também o instrumento que acompanhou as maravilhas de Edith Piaf. Em Arrebol, Aline de Lima interpretou Septembre (“setembro”) de Barbara, uma bela canção do patrimônio musical francês, aplaudida pela imprensa e pelo público. Em Marítima, ela interpreta uma música criada em 1960 para a cantora Edith Piaf, Cri du Coeur (grito do coração), com melodia de Henri Crolla e letra de Jacques Prévert ("Não é somente minha voz que canta/ É uma outra voz, uma multidão de vozes / Vozes de hoje ou do passado / Vozes engraçadas, ensolaradas / Desesperadas, maravilhadas, vozes desoladas e quebradas / Vozes sorridentes que se extasiam/ Loucas de amor e de alegria..."). Uma jóia rara.
Um outro amante de Paris, Márcio Faraco, foi cúmplice da artista na composição Madrugada, a qual se encontra igualmente em O Tempo, CD lançado pelo cantor-compositor e violonista em março de 2011. Uma explosão de sensibilidade na noite que se esvai, com o tom muito “buarquiano” de uma cândida simplicidade: Robertinho Chinês ao bandolim e voz e violão de Aline. E como nós continuamos a ouvir as primeiras composições de Aline de Lima aleatoriamente em uma ou outra rádio FM, sabemos que as melodias e voz delicada que ela carrega em si seguem firmemente a sua estrada.
Véronique Mortaigne

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